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Sound UX: o som está presente na experiência do usuário.

Mas por que muitos produtos e aplicativos ainda nascem sem um raciocínio sonoro por trás?

Por Paulo Dytz

Pense na sua jornada sonora diária em casa, por exemplo. Possivelmente você acorde com um som específico e talvez no escuro não consiga desarmá-lo. Fazendo com que esse evento sonoro se repita até você acordar de fato. Pode funcionar, mas talvez não da maneira que você gostaria. Logo em seguida, você desliga o ar condicionado e ele devolve pra você uma melodia descendente (notas musicais que são executadas do agudo para o grave), indicando que você desligou o aparelho. Já na cozinha, você liga a cafeteira e mais adiante o som invade a casa, assim como o cheiro do café ficando pronto. Você vai à garagem e acessa o seu carro, ouve o alarme sendo desarmado, abre a porta e, ao fechá-la, sente o som que ecoa lá fora cessar imediatamente.

Na rua, percebe que esqueceu de colocar o cinto de segurança ao ouvir um ícone sonoro agudo e que se repete até você parar o veículo e afivelá-lo. Chegando no escritório, você recebe uma notificação avisando que a próxima reunião começa em 10 minutos. Você abre seu laptop e recebe mais notificações que invadem a sua mente, afetando sua concentração e possivelmente atrapalhando sua produtividade. Ao final do dia, de volta para casa, você coloca algo pra comer no microondas e sua bebida preferida pra gelar no modo turbo. Enquanto isso,  sua lavadora de roupas está no processo de centrifugação com um ruído quase ensurdecedor. Eis que surge uma melodia acusando o fechamento do ciclo de lavagem, e logo em seguida outros sons se misturam acusando que seu prato está aquecido e sua bebida está do jeito que você gosta. 

Esses são apenas alguns dos muitos exemplos sonoros que você e muitos outros usuários vivenciam no dia a dia. Alguns de forma consciente e outros nem tanto. Você talvez não perceba, mas há sons que podem tornar a sua experiência mais excitante e agradável ou até impactar no seu estresse. Em um estudo que realizamos sobre o impacto do som para consumidores brasileiros, mais de 50% das pessoas afirmaram estar desapontadas com os sons dos produtos que adquiriram. Alguns, inclusive, afirmaram que devolveram suas compras em razão do som (ou ruído). 

De ícones sonoros funcionais e digitais, quando damos um like botão ou recebemos uma push notification, a sons consequenciais, que condizem a fatores acústicos de um produto, como som produzido pelo teclado do seu laptop ou o ruído gerado pelo seu aspirador de pó em funcionamento, por exemplo, são muitos os momentos em que o som é um elemento que pode afetar de forma positiva ou negativa a jornada do usuário e sua percepção sobre determinada experiência e marca.

Assim como reforço que a Identidade de uma marca precisa ser pensada através do som além do visual, o processo de UX Design necessita trazer pra dentro da concepção de um novo produto ou aplicativo, por exemplo, o sentido da audição e compreender quais serão os códigos sonoros e vibracionais que estarão presentes nesse novo projeto. Indo além de questões funcionais e possibilitando a marca criar experiências únicas com significado. Para isso, a imersão comportamental antes mesmo de pensar no som é um ponto crucial.

Quando iniciamos o projeto de redesenhar os sons funcionais dos carros da FIAT na América Latina, sabíamos que esse era o primeiro passo. Havíamos acabado de definir o dna sonoro da marca, mas para o desenho de sons atrelados a experiência de dirigir precisávamos imergir no viés comportamental de diferentes perfis de usuários e códigos culturais. Para isso, reunimos um grupo de brasileiros e argentinos, não somente com base em premissas da marca, mas também com um viés de inclusão, onde pessoas com certo grau de deficiência auditiva também foram escutados. Através de diários que iam além do som, pedimos que cada participante refletisse e relatasse suas diferentes vivências com seus carros e trouxessem suas percepções sobre quais sons de feedback soavam de forma positiva e quais repercutiram de forma negativa.

Para ambos os grupos, os resultados foram surpreendentes. Na maior gama de sons dos mais variados carros e marcas, o significado de muitos ícones sonoros não era compreendido e, o pior, a quantidade de sons também era um fator que incomodava a todos. Em audições conjuntas através de um AUDIOKIT fornecido por nossa equipe a cada participante, contendo headphones com alta qualidade para termos a mesma fonte de emissão, percebemos outro ponto intrigante: os sons funcionais e atuais de muitos carros dentro de nosso continente soavam desagradáveis. A partir desses pontos coletados, percebemos que precisávamos desenhar um vocabulário sonoro, trazendo a marca para um território verdadeiramente human-centered e conectado a um dna mais pop e quente. Convidamos os próprios usuários para reagrupar e renomear o grupo de sons

presentes na experiência de dirigir. Espontaneamente a sugestão coletiva foi migrar de sons de alerta\segurança para grupos mais conectados à realidade desses motoristas como  rotina diária\cuidados diários\segurança. Através dessa escuta mais humana também identificamos que precisaríamos sair de um território com ícones sonoros pontiagudos, mecânicos e desagradáveis para um ambiente de sons mais macios e intuitivos. Além disso, também com base em testes realizados no projeto, afinamos todos os sons dos carros. Isto porque sons musicais, dentro de uma escala ocidental, soam mais agradáveis.

Outro ponto de atenção, antes de definirmos os parâmetros sonoros de composição, foi mapear as diferentes características de hardwares presentes nos veículos da marca. Fizemos isto pois não teríamos a possibilidade de alteração nesse quesito e sempre construímos sons pensando em como irão reverberar em seu estágio final e real. Cada detalhe foi levado em conta para definirmos parâmetros sonoros e assim desenharmos os novos sons dos carros da FIAT. 

Mais um projeto apaixonante, guiado por nossa metodologia de Sound Thinking e que reforça a importância de gerar uma escuta plena e inclusiva para projetarmos insights únicos, consistentes e relevantes para a marca, seus usuários e todos aqueles que a cercam.

(Re)think design through sound.

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Queremos escutar você